sábado, 29 de junho de 2013

Sanatório Geral


Acordei cedo e logo fui pegar o jornal que me aguardava do lado de fora da porta.  Ao ler a manchete ("Donadon se entrega e  Brasil tem 1o. deputado presidiário"), lembrei-me da velha máxima do jornalismo: "cachorro mordeu o homem não é notícia; homem mordeu o cachorro, é".  Está na hora de voltar a blogar, pensei.

O inusitado não deveria ser a prisão de um deputado condenado por formação de quadrilha e peculato.  Fosse o Brasil menos surrealista, nossa perplexidade seria por uma pessoa condenada em 2010 a treze anos de prisão ainda estar solta e, mais ainda, deter um mandato de parlamentar e só anteontem ter sido expulso de seu partido.  O jornal informa ainda que "a Câmara promete acelerar o processo contra ele por quebra de decoro".

Ou seja, ele deverá perder o mandato não pelos crimes que cometeu e pelos quais foi condenado, mas por ter quebrado o decoro parlamentar.  Em vista de tudo que acontece no Brasil, indago-me que decoro será esse.  Não é quebra de decoro (para mencionar apenas um caso) o atual presidente do Senado ter renunciado para evitar sua cassação?

Depois não entendem por que, nas manifestações que inundaram o país, a tônica é a rejeição aos partidos políticos e a "tudo isso que está aí".

Embora a voz das ruas seja um tanto confusa, já que cada manifestante tem sua própria agenda, é perfeitamente clara a demanda por um mínimo de decência, gritada em uníssono pelos manifestantes.

Como lembrou Elio Gaspari há três dias em O Globo, "há um século o historiador Capistrano de Abreu propôs a mais sucinta Constituição para Pindorama:
'Artigo 1º. Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
Artigo 2º. Revogam-se as disposições em contrário'.”

domingo, 19 de maio de 2013

Museu Nacional de História Natural - Londres

Logo em nosso primeiro dia em Londres acordamos tarde, cansados da viagem e sentindo as 4horas de diferença de fuso, fomos ao National History Museum, a 10 minutos de caminhada de onde estamos hospedados.  Um espetáculo.

Para começar, a entrada é gratuita e havia muitos, muitos jovens estudantes, desde os pequeninos em visita da escola até jovens visitando o museu por conta própria.  Não visitamos todo o museu (demandaria mais tempo do que dispúnhamos), mas o Darwin Centre é um show por si só.  Trata-se de uma ala do museu dedicada a pesquisa, com áudio visuais interativos apresentados por pesquisadores e, em alguns pontos, os visitantes podem ver os laboratórios de pesquisa.  Tudo de altíssimo nível, usando tecnologia de ponta, estimulando a curiosidade científica e - quem sabe - levando milhares de jovens a abraçar a biologia para o resto de suas vidas.

Ao longo da visita, tocado pela sensibilidade de quem quer que tenha concebido o Darwin Centre, não pude deixar de pensar no Brasil.  Não vou tecer comentários a respeito, pois todos conhecemos o estado de abandono e penúria com que cuidamos do futuro de nossos filhos e netos.  Visitar um Darwin Centre dá vontade de chorar.  Pelo belíssimo trabalho dos britânicos e pelo nosso descaso.

Visitamos também a exposição "Gênesis", de Sebastião Salgado.  Para quem ficou em dúvida, Sebastião Salgado é um fotógrafo documentarista nascido em Aimorés, MG, há 69 anos.  Mundialmente conhecido e aclamado por sua atuação social, sua exposição "Gênesis", em estréia mundial em Londres, mostra fotos do artista tiradas nos cinco continentes.  É maravilhosa, vale com sobra cada uma das £ 10 do ingresso.

E, para finalizar por hoje, vale adiantar que não tivemos uma gota sequer de chuva - hoje o sol até se mostrou - estamos nos apaixonando por Londres.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Londres - primeiras impressões 1

Chegamos a Londres ontem à noite.  Primeira visita à cidade.  No caminho, conexão em Frankfurt, a revista foi das mais rigorosas por que já passei.  Mais até que nos Estados Unidos - e mais educada também.  Minha mochila passou no raio X com o iPad dentro.  Uma senhora, séria porém educada, me perguntou se havia um tablet na mochila e me solicitou que retirasse.  Passaram novamente mochila e tablet pelo raio X.  Quando peguei para seguir, veio um alemão de terno, muito educado, e pediu que o acompanhasse.  Fomos a uma sala próxima e ele, educadíssimo, passou um papel no iPad explicando que era para detetar explosivos.  Não encontrou nada, agradeceu e me liberou.  Tudo com extrema educação, sem qualquer traço de ameaça ou truculência.

Logo na chegada a Londres, fiz uma das coisas que queria: andar em um daqueles táxis londrinos tradicionais - cujos dias parecem estar contados.  Muito legal, espaçoso à beça, a cara de Londres, mas é um programa caro - £ 60.  A ida para o aeroporto certamente será de tube (como eles chamam o metrô aqui) e trem.  Mas na chegada, à noite, cansados e sem conhecer a cidade, optamos pelo táxi mesmo sabendo que era caro.

Hoje fomos ao Natural History Museum, que merece um post exclusivo, a ser publicado amanhã ou depois.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

E a Educação?


Fiquei sem postar por 10 dias porque a semana que passou foi meio atribulada e estou fazendo um curso na Rice University, em  Houston, Texas, o que tem me consumido algumas horas por semana.

A propósito, trata-se de um curso on-line de excelente qualidade e gratuito.  Mais sobre os cursos disponíveis em http://coursera.org/, que congrega 69 instituições americanas, japonesas e de vários países da Europa, oferecendo cursos on-line gratuitos em diversas áreas.  Basta ter um computador, conexão à internet (de preferência em banda larga) e saber inglês.

Também o Massachusetts Institute of Technology - MIT, a Yale University, a Stanford University e muitas outras instituições de primeira linha oferecem cursos on-line gratuitos.  E cada curso on-line conta com dezenas de milhares de alunos.

Se o conhecimento de inglês é uma barreira, começam a surgir alternativas:
 
Outro dia, conversando em um dos estados mais pobres do Brasil, uma professora universitária justificava a necessidade de investimentos em indústrias para criar empregos.  Fiquei pensando que, com a enorme deficiência do sistema educacional naquele estado, no curto prazo apenas uma pequena parte desses empregos seria preenchida pela população local.  Não expressei meu pensamento porque no contexto seria impróprio.
 
Ouvi o ex-ministro Maílson da Nóbrega comentar em um programa de TV que o valor investido em educação vinha aumentando nos últimos anos, mas isso não se traduzia em melhora do ensino na mesma proporção por falta de gestão.  Não pude ainda analisar as informações disponíveis, mas à primeira vista Maílson parece ter razão.
 
Entre 2005 e 2010 o investimento público direto em educação, por estudante, cresceu 30% no nível superior e duplicou na educação básica(*).  Infelizmente, a julgar pelo que vemos em todas as áreas e níveis de governo no país, é difícil crer que esses valores tenham sido bem aplicados.
 
Estamos à beira de uma revolução na educação.  Não há sentido que, com toda a tecnologia atualmente disponível, continuemos a adotar o mesmo modelo, apenas substituindo quadro negro e giz por mouse e monitor.  Temos no Brasil pessoas criativas e capacitadas, capazes de alavancar este salto.  Falta definir os objetivos, reunir as pessoas certas e dar prioridade.  Com vontade política e sem deixar que as escolhas sejam ditadas por interesses outros - sejam eles partidários ou até piores. 
 
Quem se habilita?  Presidente Dilma?  Senador Aécio?  Governador Campos?  Sra. Marina Silva?
 
A hora é agora.  Ou, mais uma vez, o Brasil vai chegar atrasado. 

(*) Fonte: portal.inep.gov.br/estatisticas-gastoseducacao; valores reais, corrigidos pelo IPCA

domingo, 28 de abril de 2013

Educação: nossa maior prioridade

A revista Veja desta semana traz interessante entrevista com Wendy Kopp, que já havia sido mencionada pela revista em 2009.

Ao final de seu curso de graduação na Universidade de Princeton, em 1989, ela se propôs a recrutar universitários recém-formados para dar aulas nas escolas mais carentes dos Estados Unidos.  Sua meta era conseguir arregimentar 500 universitários, conseguiu cinco vezes mais.  Hoje o "Teach for America" possui 10.400 professores lecionando para 750 mil crianças norte americanas.

Em 2007, uma parceria com a organização britânica sem fins lucrativos  "Teach First" deu origem à "Teach for All", uma rede global de iniciativas para expandir as oportunidades educacionais em seus respectivos países segundo a mesma lógica da "Teach for America".  A "Teach for All" está presente em 26 países e prossegue em rápida expansão. 

Vale a pena ler a entrevista que, infelizmente, não está disponível na internet.

Reproduzo a seguir um pequeno trecho da entrevista de Wendy Kopp referente à atuação do "Ensina!"(1) no Brasil:

"P: Inclusive no Brasil?
R: Sim.  O Ensina! começou no Rio de Janeiro com a idéia de selecionar trinta jovens.  Apareceram 2.400 candidatos, número retumbante.  Conversei com os selecionados.  São jovens incríveis, bem formados e talentosos, à altura dos melhores universitários americanos que recrutamos.

P:  Por que o Ensina! foi interrompido?
R: Logo no começo do trabalho, as circunstâncias mudaram.  A prefeitura do Rio não conseguiu garantir que nossos professores dessem aula no horário regular da escola.  Então eles passaram a lecionar depois do horário normal, como se fosse um reforço escolar.  Mas esse não é o nosso modelo.  Nos Estados Unidos e nos outros 25 países onde atuamos, nossos professores estão na sala de aula regular, assumindo integral responsabilidade pelo sucesso de seus alunos.  Por isso, depois de dois anos, o trabalho foi suspenso.  Agora o Ensina! está em busca de novas parcerias com estados e prefeituras.  Tenho certeza de que o Ensina! será um sucesso no Brasil.  É só uma questão de acertar os ponteiros."

Esta é a parte triste da história: funciona no Paquistão, no Nepal, na Letônia, na Índia, no Japão, na Alemanha, nos Estados Unidos.  Mas não funciona no Brasil.    

(1) "Ensina!" é o nome do programa nos países latinoamericanos.
  

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Congresso quer ter a palavra final sobre decisões do STF



A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ) aprovou no dia 24 de abril proposta de emenda à Constituição (PEC 33/2011) que dá ao Congresso o poder de derrubar decisões do STF sobre emendas constitucionais.

A PEC propõe que, quando o STF decidir pela inconstitucionalidade de uma emenda à Constituição, o Congresso poderá rever o ato do tribunal.  Caso os parlamentares discordem da decisão do Supremo a questão será levada a um plebiscito popular.

Segundo o Deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), o objetivo do projeto é evitar "interferência" do Judiciário nos assuntos que competem ao Legislativo.

Outro ponto da PEC também submete ao Congresso decisão sobre súmulas vinculantes aprovadas pelo STF.  A súmula vinculante, criada em 2004, é um mecanismo que obriga juízes de todos os tribunais a seguirem o entendimento adotado pelo STF sobre determinado assunto, após reiteradas decisões sobre a matéria.  A proposta aprovada pela CCJ condiciona o efeito vinculante à aprovação da súmula por maioria absoluta em sessão conjunta do Congresso Nacional.

Esta proposta ainda necessita passar por uma comissão especial na Câmara antes de ser submetida ao plenário.

A reação de Ministros do STF à aprovação da PEC 33/2011 na CCJ foi negativa, como já seria de se esperar.  O argumento é de que a PEC fere a cláusula pétrea da separação de poderes, além de ter soado como possível reatliação ao julgamento do mensalão.

Anda meio estranho este nosso país.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Sites de comércio eletrônico não recomendados pelo Procon-SP


A Fundação Procon-SP atualizou a relação de sites que devem ser evitados ao fazer compras pela internet, adicionando mais 71 à lista anterior.

O Procon-SP recebeu reclamações desses sites por irregularidades na prática de comércio eletrônico, principalmente por falta de entrega do produto adquirido pelo consumidor.

De acordo com o diretor executivo do Procon-SP, Paulo Arthur Góes, esses fornecedores virtuais não são localizados, inclusive no rastreamento feito no banco de dados de órgãos como Junta Comercial, Receita Federal e Registro BR, responsável pelo registro de domínios no Brasil, o que inviabiliza a solução do problema apresentado pelo consumidor.
Confira aqui a lista atualizada.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

513


Hoje é dia de festa.  O auriverde Sanatório Geral completa 513 anos.

A pátria mãe continua a dormir tão distraída, eternamente deitada em berço esplêndido, sem perceber que é subtraída em cada vez mais tenebrosas transações.

E a ala dos barões famintos, seja com que fantasia for, não abre mão de participar da ofegante epidemia.

Parabéns a todos nós e viva São Jorge.

sábado, 20 de abril de 2013

Palavras


Tenho fetiche por palavras, confesso. 
Que fique claro: fetiche em sentido figurado, não com conotação sexual.  A propósito, lembrei-me agora da comédia "Um peixe chamado Wanda", em que a personagem interpretada por Jamie Lee Curtis tem fetiche (agora sexual) pelo idioma italiano e atinge o climax sucessivas vezes enquanto seu amante (interpretado por Kevin Kline) pronuncia palavras desconexas em um macarrônico italiano. 
Mas, voltando ao tema, há muito sou um admirador incondicional das letras de Chico Buarque, que brinca com as palavras com tanta facilidade que muitas vezes passa despercebido o uso de termos não muito frequentes na linguagem coloquial, tanto mais por intercalados com expressões do dia-a-dia, quase gírias. 
Que outro autor seria capaz de compor Choro Bandido, Eu te amo, Vai passar, Pedaço de mim, Olhos nos olhos, Trocando em miúdos, Atrás da porta (aqui em interpretação visceral da inesquecível Elis Regina) e tantas outras, culminando com a que muitos consideram sua obra prima: O que será, em suas duas versões: À flor da pele (O que será que me dá / Que me bole por dentro, será que me dá...) e À flor da terra (O que será que será / Que andam suspirando pelas alcovas...). 
Em tempo de "junk funk", de hits descartáveis, da cultura da superficialidade e da celebridade instantânea profetizada por Andy Warhol em 1968 ("In the future, everyone will be world-famous for 15 minutes" - "No futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos"), revisitar os grandes compositores e intérpretes da MPB é um bálsamo.  Há muitos bons, alguns verdadeiramente grandes, mas, em minha opinião, nenhum como Chico Buarque.

domingo, 14 de abril de 2013

Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição

Ao ler hoje em O Globo duas matérias (links aqui: 1 e 2), lembrei-me de artigo publicado em 18/3 por Ricardo Noblat com comentários sobre a Presidente Dilma.

Em atributos pessoais ela é quase a antítese do ex-presidente Lula.  Ele tem indiscutíveis carisma e habilidade política.  Ela assumiu a presidência com fama de boa gestora, embora carecendo dos principais atributos de seu antecessor.

Decorridos pouco mais de dois anos no cargo, a impressão é de que ela é uma gestora à moda antiga: excessivamente centralizadora, autoritária, pouco disposta a ouvir, com dificuldade para silenciar nos momentos adequados e deixar que as decisões sejam anunciadas pelos níveis hierárquicos competentes.

A figura do(a) Presidente da República carrega um simbolismo que precisa ser compreendido pelo ocupante do cargo e deve utilizado com sabedoria.  Cabe-lhe estabelecer políticas, rumos para a nação e deixar que sua equipe desdobre e operacionalize as ações necessárias.  Assim também o(a) Presidente é preservado de desgaste desnecessário.

A Presidente Dilma, ao contrário, parece querer decidir até mesmo que pista o avião presidencial usará.  Nem nos controladores de vôo ela confia.

Quando o(a) Presidente da República expressa opiniões sobre assuntos que deveriam ser competência de escalões inferiores o resultado é desconforto e confusão generalizados.  Seus assessores nos diversos níveis sentem-se esvaziados e tornam-se receosos de tomar qualquer decisão.  Isso tem ocorrido na economia, onde a Presidente assume publicamente atribuições que caberiam ao Ministro e ao presidente do Banco Central.  Além disso, ao ocupar-se do operacional a Presidente deixa de exercer seu papel maior.  Na falta de uma política econômica clara, o que temos visto são ações pontuais que, até o momento, não apresentam os resultados esperados.  Em vez de crescimento do país, o que tem crescido é a inflação.  Apesar disso, a Presidente goza de popularidade elevada, especialmente junto à classe média emergente, e era favorita indiscutível à eleição presidencial do próximo ano.

Era, porque cometeu um erro que pode lhe custar caro.

Considerando que a maior ameaça à sua reeleição seria um possível retorno de Lula, a Presidente Dilma buscou neutralizá-lo.  Em uma conversa tête-à-tête, ofereceu-lhe a candidatura à presidência em 2014.  Após sucessivas negativas, ela então pediu a Lula que lançasse seu nome à reeleição na festa de aniversário do PT - o que foi feito.

Ao antecipar a campanha presidencial e ser proclamada candidata do PT, ela desenhou um alvo em suas próprias costas e convidou a oposição à batalha.  Mais ainda, desviou o foco de Lula e abriu um espaço para dissidência de atuais aliados, que Eduardo Campos vem aproveitando com competência.

Naquele momento, em que gozava de grande popularidade, a Presidente Dilma deveria postergar tanto quanto possível o início da campanha, continuar exercendo o "poder da caneta" e torcer para outubro de 2014 chegar logo.  Enquanto isso, as alas paulista e mineira do PSDB continuariam a guerrear em benefício do PT e dela própria.

Agora a Presidente governa para a reeleição, queimando seus próprios navios para manter acesa a chama de seu projeto, como muito bem ilustra artigo publicado pelo economista e professor Rogério Furquim Werneck. [3]

Não se deve descartar a hipótese de que a Presidente Dilma venha a sofrer enorme desgaste nos próximos meses, vítima de seu estilo gerencial, dos ataques oposicionistas e do fogo amigo, acabando por abrir espaço para uma candidatura de Lula como única alternativa para manter o PT no poder.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O sofá da sala

Foi preciso que uma turista americana fosse estuprada por bandidos que circulavam em uma van para que houvesse alguma reação da prefeitura do Rio.

Os bandidos foram presos em pouco tempo e logo apareceram outras vítimas da mesma quadrilha - vítimas que não mereceram a mesma ação eficiente e rápida da polícia carioca.

Depois o prefeito proibiu o uso de películas escurecidas (insulfilm) nos vidros das vans.

Agora proíbe as vans de circularem em bairros da zona sul carioca.  Estupro na zona sul repercute mais, né prefeito?

Qualquer carioca sabe que o problema não é falta de leis, é falta de fiscalização.  Aliás, qualquer brasileiro sabe disso.

As vans legalizadas provavelmente vão cumprir as novas determinações, mas vale lembrar que a van dos estupros não poderia circular em Copacabana, onde embarcou a vítima americana.

Alguém acredita que as medidas tomadas pelo prefeito vão ser cumpridas sem uma fiscalização eficiente?  E se houvesse fiscalização eficiente tais medidas não seriam necessárias (se bem que eu concorde com a retirada do insulfilm, mas não como medida para evitar estupros).

Impossível não lembrar da antiga anedota do marido que ao chegar em casa encontrou a esposa com outro no sofá da sala e resolveu o problema tirando o sofá.

Imagino que a próxima medida do prefeito será obrigar as passageiras de vans a usar cinto de castidade.

domingo, 7 de abril de 2013

Quero cheirar fumaça de óleo diesel, me embriagar até que alguém me esqueça (2)

Para quem me achou exageradamente pessimista no post anterior, seguem dois links para um Editorial de O Globo e para matéria publicada hoje no Estado de S. Paulo.

Acho que, infelizmente, não é exagero da minha parte.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Quero cheirar fumaça de óleo diesel, me embriagar até que alguém me esqueça


Eu costumo dizer que o ser humano não pode perder a capacidade de sonhar e de se indignar.

Atualmente, por dificuldade de lidar com a passagem do tempo, acho difícil sonhar.  Resta então indignar-me, e razões para tanto não faltam.

Diariamente vou de casa ao trabalho em meu carro, levando entre 30 e 60 minutos para percorrer um trajeto de oito ou nove quilômetros.  O mesmo ocorre na volta para casa.  Seria mais racional usar o metrô, que não fica longe, mas considero o serviço prestado de má qualidade - intervalos irregulares entre as composições, excesso de passageiros (especialmente no retorno para casa), panes frequentes.

No caminho, ouvindo as notícias, constato que o serviço do metrô não é tão ruim assim; o das barcas que fazem o trajeto entre Rio e Niterói é muito pior, idem o dos trens da Supervia.  Ao menos hoje não há registro de ônibus despencando de viaduto nem de estupro em van.

Sorria, você está na Cidade Maravilhosa.

Entre comentários sobre política e economia reflito sobre o quanto foi conveniente a ascenção do deputado Feliciano para o senador Renan Calheiros, esquecido pela mídia e pela massa, ofuscado pelo parlamentar cuja atuação pastoral pode ser apreciada em http://youtube.com/watch?v=zNO6VCX6KRE.  Achei fantástico o trecho em que ele ameaça "É a última vez que eu falo. Samuel de Souza doou o cartão mas não doou a senha.  Aí não vale. Depois vai pedir um milagre pra Deus, Deus não vai dar, vai falar que Deus é ruim."  Só faltaram as gargalhadas ao fundo.

Eleito deputado federal por São Paulo com duzentos e onze mil votos, pelo menos criatividade ele mostrou ao inventar a "sessão pública com entrada restrita" na Comissão de Direitos Humanos.

Ouvir o noticiário é importante, fiquei sabendo que brevmente será criada a Hidrobrás.  Não é água mineral, é mais uma empresa estatal - a quinta criada em dois anos do governo atual, o mesmo número de estatais criadas nos oito anos de governo do Presidente Inácio.  Chamou-me a atenção o nome de uma dessas empresas recém criadas: Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias S.A.  Alcunhada de "Segurobrás", apesar do nome pomposo nada mais é do que uma seguradora estatal.  Dizem que ela atuará principalmente nas grandes obras de infra estrutura.  Pena que só tenha sido criada agora, depois da interdição do Engenhão.

Isso tudo são detalhes, claro; o importante é criar empregos.

Não posso me distrair com as notícias e minhas reflexões, afinal estou dirigindo em meio a um engarrafamento monstro.  Mesmo com o sinal aberto, paro antes da faixa de pedestres para não fechar o cruzamento.  Parece que o rapaz no carro atrás do meu está com muita pressa, pois mesmo com os vidros fechados suas buzinadas soam estridentes.  O sinal fica vermelho para nós e os carros da via transversal não podem passar, pois o cruzamento está fechado.  Só eu e um outro "otário" paramos antes da faixa de pedestres, que se esgueiram por entre os veículos para atravessar a rua.  Quando o cruzamento enfim fica desimpedido, os veículos da rua transversal avançam o sinal vermelho.  Vendetta!

Em vários trechos a rua sofre um estreitamento devido a veículos estacionados em locais onde o estacionamento é proibido.  Vinte minutos depois verifico que esta era a causa do engarrafamento.  Sem surpresa, pois isso ocorre diariamente e continua a ocorrer dia após dia mais ou menos nos mesmos locais.  Ordem e progresso!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Isto é imagem e opinião


reproduzido de Acorda Brasil, no Facebook

quarta-feira, 27 de março de 2013

Começar de novo

Este blog foi criado em 24/4/2010 com o objetivo de postar mais imagens do que opiniões.
No início consegui postar com alguma frequência, depois os posts foram rareando.  O último foi há quase um ano.

Bem que Eduardo me avisou que seria difícil manter a regularidade.

Há alguns dias Patrícia "Tiça" Campos enviou e-mails incentivando meu retorno ao blog.  Carolina Quintani já havia feito isso antes.  Agradeço à Tiça e à Carô pelo estímulo.  Vocês não imaginam o quanto foi importante.

Mas provavelmente eu não estaria aqui tentando sem um comentário da Vânia há algum tempo, durante uma sessão de análise.  Fiz um pequeno discurso indignado com os desmandos que vejo diariamente por todos os lados e ela me perguntou: "Por que você não escreve?"

Desde então venho ruminando esta pergunta sem encontrar uma boa resposta.  Na verdade havia uma resposta, mas era difícil admitir: porque não sei se o que vou escrever interessa às outras pessoas.  Da mesma forma que mantenho milhares de fotos "escondidas no HD do meu computador". (Vânia de novo.  Alguém aí acha que é fácil fazer análise a sério?).

De algum modo acredito que as botas amarelas da Martha Medeiros foram o gatilho.  Há umas duas semanas ela escreveu sobre botas amarelas na revista de domingo do Globo.  Isso parece ter ficado no subsolo do meu inconsciente ("se a Martha Medeiros consegue fazer uma boa crônica partindo de botas amarelas...").  Se alguém tiver interesse em ler, vai encontrar o texto aqui.

Aí é isso, estou de volta tentando me fazer presente com regularidade, no momento mais focado em opinião do que em imagem.

Àqueles que passarem por aqui peço que digam alguma coisa, qualquer coisa.  Critiquem, discordem, reclamem, sugiram, polemizem.  Este é o melhor retorno que posso ter.