segunda-feira, 11 de agosto de 2014

VAMOS PRESERVAR A PETROBRAS, PRESIDENTE DILMA


A presidente Dilma parece atordoada com os possíveis desdobramentos de supostas irregularidades envolvendo a Petrobras para sua campanha eleitoral.

A compra da refinaria de Pasadena foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras, à época presidido pela então ministra Dilma. Quando os questionamentos sobre o negócio se tornaram incômodos, a presidente Dilma atribuiu a decisão do Conselho a uma apresentação "técnica e juridicamente falha", feita pelo então diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Esta justificativa, na melhor das hipóteses, coloca sob suspeição a competência do diretor e a qualidade da análise do tema pelo Conselho, órgão deliberativo máximo da Petrobras[1].

O assunto acabou sendo objeto de duas CPIs - uma do Senado e outra mista, integrada por representantes das duas casas do Congresso. Há cerca de uma semana a revista Veja divulgou video que indicaria ter havido um acerto prévio das questões a serem formuladas pelos integrantes da CPI mista aos dirigentes da Petrobras intimados a depor. Caso isso tenha realmente ocorrido, trata-se de fato muito grave.

Ontem a presidente Dilma classificou as denúncias contra dirigentes da Petrobras de "factoides políticos", sugerindo que tais assuntos não sejam abordados na campanha eleitoral de forma a preservar a maior empresa do país. A presidente mencionou ainda que “pode ser que tenha um aumento [no preço dos combustíveis]. Eu não tenho como discutir isso agora. Não estou dizendo que tem aumento ou que não tem. Só estou dizendo que é possível.”[2]

Começando pelo final, seria de bom tom que a presidente se abstivesse de fazer qualquer comentário a respeito de preços dos combustíveis, pois a Petrobras é uma companhia de capital aberto, com ações negociadas em bolsa tanto no Brasil como nos EUA. Ainda mais se é para não dizer nada.

Não há como discordar da presidente quanto à importância de preservar a maior empresa do país. Entretanto, vale recapitular alguns fatos.

Um ex-diretor da estatal, nomeado no governo do ex-presidente Lula, está preso há mais de um mês, sob acusação de envolvimento com lavagem de dinheiro. Há suspeita de superfaturamento em diversos contratos para aquisição de bens e serviços, sob investigação pelo TCU. O valor de mercado da empresa despencou nos últimos anos, em parte porque os preços dos combustíveis no mercado interno vêm sendo comprimidos para evitar um aumento da inflação (que, mesmo assim, vem se mantendo no limite superior da meta estabelecida). O endividamento da Petrobras vem crescendo de forma consistente, estando bem acima do patamar recomendado pelo próprio Conselho de Administração da empresa.

Nesse cenário, qual a melhor forma de preservar a Petrobras? Fingir que está tudo bem, como parece pretender a presidente Dilma? Isso poderia preservar os dirigentes da companhia que possam recear ter investigada sua atuação no exercício do cargo.

Para preservar a instituição, que é o que importa e deve ser a preocupação da presidente, vale a máxima do ex-juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Louis Brandeis: a luz do sol é o melhor dos desinfetantes.



[1] Art. 17º do Estatuto Social: A Petrobras será dirigida por um Conselho de Administração, com funções deliberativas, e uma Diretoria Executiva. (em http://investidorpetrobras.com.br/pt/governanca/estatuto-social/); grifo do autor
[2] http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/df/noticia/2014/08/dilma-diz-que-petrobras-nao-pode-ser-comprometida-por-factoide.html

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Copa do mundo e eleições


Hoje, em uma semifinal da Copa do Mundo, a seleção brasileira foi derrotada de forma acachapante por 7 a 1 pela seleção alemã em Belo Horizonte.  Diante de tamanha humilhação sofrida pelo que Nelson Rodrigues definiu como "a Pátria de chuteiras", o país está enlutado.  Na TV, na internet, e certamente também nos jornais impressos de amanhã, o tema dominante é e será a identificação das causas de tamanha humilhação, maior até que a sempre lembrada derrota para a seleção uruguaia na copa de 1950, em pleno Maracanã.

Embora não se possa ainda saber ao certo se há relação com a derrota da seleção brasileira, em pelo menos duas capitais ônibus foram incendiados logo após o jogo.

No jogo anterior Neymar, o craque do time brasileiro, sofreu uma contusão que o afastará do futebol por cerca de três meses, embora felizmente não apresente gravidade ou ameace a continuidade de sua carreira.  A ausência de Neymar nos dois jogos restantes da copa tornou-se assunto diário na midia e nas conversas, verdadeira tragédia nacional.

Na véspera da contusão de Neymar, trecho de um viaduto em final de construção desabou sobre uma movimentada via de Belo Horizonte matando duas pessoas e ferindo vinte e três.  A repercussão nem de longe se compara à da contusão de Neymar.

A reação das pessoas à derrota da seleção brasileira torna evidente que o futebol tem um significado relevante no imaginário da população.  Quando se trata de copa do mundo, a definição de Nelson Rodrigues parece encaixar perfeitamente: as vitórias da seleção brasileira nos redimem de nossa inferioridade real ou imaginária em outros campos - que motivou a criação de outra inspirada expressão rodrigueana: o "complexo de vira-latas".
 
Em minha opinião a principal causa da retumbante derrota sofrida pela seleção brasileira é a mesma de boa parte dos males que afligem o país, seja na economia, na saúde, na educação ou na segurança pública: gestão deficiente.
 
Os responsáveis pela seleção apostaram em um grupo com pouca experiência e, já de início, colocaram a conquista do torneio como provável, quase uma obrigação.  O ritmo de treinos era frouxo comparado ao das outras equipes e, apesar do desempenho insatisfatório, os críticos eram desqualificados, acusados de estarem torcendo contra.  Em suma, arrogância e autoritarismo.  Deu no que deu.

Tudo muito parecido com o que ocorre no país, onde não há planejamento e os evidentes problemas são sistematicamente negados.  Quando necessário, nação e governo são deliberadamente misturados e confundidos como se a mesma coisa fossem.

Embora nossa história indique não haver correlação entre resultado na copa do mundo e nas eleições, a presidente Dilma, em vista do resultado positivo da organização da copa (no qual ela mesma parecia não acreditar) e da progressão da seleção brasileira rumo ao que parecia ser mais uma conquista, aproximou-se do evento, provavelmente na expectativa de ganho de popularidade para a candidata Dilma.
 
Ela sabia do risco de uma derrota da seleção brasileira, mas certamente não considerava a possibilidade de um resultado humilhante como o que ocorreu, para o qual não há histórico.
 
Quais serão agora as consequências para a candidata?  Durante o jogo, mesmo não estando presente, ela foi objeto de manifestação da torcida, a exemplo do que ocorreu na abertura da copa, em São Paulo.  Sem entrar no mérito dos termos em que os torcedores se manifestaram, com os quais não concordo, parece que o tiro saiu pela culatra.

sábado, 29 de junho de 2013

Sanatório Geral


Acordei cedo e logo fui pegar o jornal que me aguardava do lado de fora da porta.  Ao ler a manchete ("Donadon se entrega e  Brasil tem 1o. deputado presidiário"), lembrei-me da velha máxima do jornalismo: "cachorro mordeu o homem não é notícia; homem mordeu o cachorro, é".  Está na hora de voltar a blogar, pensei.

O inusitado não deveria ser a prisão de um deputado condenado por formação de quadrilha e peculato.  Fosse o Brasil menos surrealista, nossa perplexidade seria por uma pessoa condenada em 2010 a treze anos de prisão ainda estar solta e, mais ainda, deter um mandato de parlamentar e só anteontem ter sido expulso de seu partido.  O jornal informa ainda que "a Câmara promete acelerar o processo contra ele por quebra de decoro".

Ou seja, ele deverá perder o mandato não pelos crimes que cometeu e pelos quais foi condenado, mas por ter quebrado o decoro parlamentar.  Em vista de tudo que acontece no Brasil, indago-me que decoro será esse.  Não é quebra de decoro (para mencionar apenas um caso) o atual presidente do Senado ter renunciado para evitar sua cassação?

Depois não entendem por que, nas manifestações que inundaram o país, a tônica é a rejeição aos partidos políticos e a "tudo isso que está aí".

Embora a voz das ruas seja um tanto confusa, já que cada manifestante tem sua própria agenda, é perfeitamente clara a demanda por um mínimo de decência, gritada em uníssono pelos manifestantes.

Como lembrou Elio Gaspari há três dias em O Globo, "há um século o historiador Capistrano de Abreu propôs a mais sucinta Constituição para Pindorama:
'Artigo 1º. Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
Artigo 2º. Revogam-se as disposições em contrário'.”

domingo, 19 de maio de 2013

Museu Nacional de História Natural - Londres

Logo em nosso primeiro dia em Londres acordamos tarde, cansados da viagem e sentindo as 4horas de diferença de fuso, fomos ao National History Museum, a 10 minutos de caminhada de onde estamos hospedados.  Um espetáculo.

Para começar, a entrada é gratuita e havia muitos, muitos jovens estudantes, desde os pequeninos em visita da escola até jovens visitando o museu por conta própria.  Não visitamos todo o museu (demandaria mais tempo do que dispúnhamos), mas o Darwin Centre é um show por si só.  Trata-se de uma ala do museu dedicada a pesquisa, com áudio visuais interativos apresentados por pesquisadores e, em alguns pontos, os visitantes podem ver os laboratórios de pesquisa.  Tudo de altíssimo nível, usando tecnologia de ponta, estimulando a curiosidade científica e - quem sabe - levando milhares de jovens a abraçar a biologia para o resto de suas vidas.

Ao longo da visita, tocado pela sensibilidade de quem quer que tenha concebido o Darwin Centre, não pude deixar de pensar no Brasil.  Não vou tecer comentários a respeito, pois todos conhecemos o estado de abandono e penúria com que cuidamos do futuro de nossos filhos e netos.  Visitar um Darwin Centre dá vontade de chorar.  Pelo belíssimo trabalho dos britânicos e pelo nosso descaso.

Visitamos também a exposição "Gênesis", de Sebastião Salgado.  Para quem ficou em dúvida, Sebastião Salgado é um fotógrafo documentarista nascido em Aimorés, MG, há 69 anos.  Mundialmente conhecido e aclamado por sua atuação social, sua exposição "Gênesis", em estréia mundial em Londres, mostra fotos do artista tiradas nos cinco continentes.  É maravilhosa, vale com sobra cada uma das £ 10 do ingresso.

E, para finalizar por hoje, vale adiantar que não tivemos uma gota sequer de chuva - hoje o sol até se mostrou - estamos nos apaixonando por Londres.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Londres - primeiras impressões 1

Chegamos a Londres ontem à noite.  Primeira visita à cidade.  No caminho, conexão em Frankfurt, a revista foi das mais rigorosas por que já passei.  Mais até que nos Estados Unidos - e mais educada também.  Minha mochila passou no raio X com o iPad dentro.  Uma senhora, séria porém educada, me perguntou se havia um tablet na mochila e me solicitou que retirasse.  Passaram novamente mochila e tablet pelo raio X.  Quando peguei para seguir, veio um alemão de terno, muito educado, e pediu que o acompanhasse.  Fomos a uma sala próxima e ele, educadíssimo, passou um papel no iPad explicando que era para detetar explosivos.  Não encontrou nada, agradeceu e me liberou.  Tudo com extrema educação, sem qualquer traço de ameaça ou truculência.

Logo na chegada a Londres, fiz uma das coisas que queria: andar em um daqueles táxis londrinos tradicionais - cujos dias parecem estar contados.  Muito legal, espaçoso à beça, a cara de Londres, mas é um programa caro - £ 60.  A ida para o aeroporto certamente será de tube (como eles chamam o metrô aqui) e trem.  Mas na chegada, à noite, cansados e sem conhecer a cidade, optamos pelo táxi mesmo sabendo que era caro.

Hoje fomos ao Natural History Museum, que merece um post exclusivo, a ser publicado amanhã ou depois.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

E a Educação?


Fiquei sem postar por 10 dias porque a semana que passou foi meio atribulada e estou fazendo um curso na Rice University, em  Houston, Texas, o que tem me consumido algumas horas por semana.

A propósito, trata-se de um curso on-line de excelente qualidade e gratuito.  Mais sobre os cursos disponíveis em http://coursera.org/, que congrega 69 instituições americanas, japonesas e de vários países da Europa, oferecendo cursos on-line gratuitos em diversas áreas.  Basta ter um computador, conexão à internet (de preferência em banda larga) e saber inglês.

Também o Massachusetts Institute of Technology - MIT, a Yale University, a Stanford University e muitas outras instituições de primeira linha oferecem cursos on-line gratuitos.  E cada curso on-line conta com dezenas de milhares de alunos.

Se o conhecimento de inglês é uma barreira, começam a surgir alternativas:
 
Outro dia, conversando em um dos estados mais pobres do Brasil, uma professora universitária justificava a necessidade de investimentos em indústrias para criar empregos.  Fiquei pensando que, com a enorme deficiência do sistema educacional naquele estado, no curto prazo apenas uma pequena parte desses empregos seria preenchida pela população local.  Não expressei meu pensamento porque no contexto seria impróprio.
 
Ouvi o ex-ministro Maílson da Nóbrega comentar em um programa de TV que o valor investido em educação vinha aumentando nos últimos anos, mas isso não se traduzia em melhora do ensino na mesma proporção por falta de gestão.  Não pude ainda analisar as informações disponíveis, mas à primeira vista Maílson parece ter razão.
 
Entre 2005 e 2010 o investimento público direto em educação, por estudante, cresceu 30% no nível superior e duplicou na educação básica(*).  Infelizmente, a julgar pelo que vemos em todas as áreas e níveis de governo no país, é difícil crer que esses valores tenham sido bem aplicados.
 
Estamos à beira de uma revolução na educação.  Não há sentido que, com toda a tecnologia atualmente disponível, continuemos a adotar o mesmo modelo, apenas substituindo quadro negro e giz por mouse e monitor.  Temos no Brasil pessoas criativas e capacitadas, capazes de alavancar este salto.  Falta definir os objetivos, reunir as pessoas certas e dar prioridade.  Com vontade política e sem deixar que as escolhas sejam ditadas por interesses outros - sejam eles partidários ou até piores. 
 
Quem se habilita?  Presidente Dilma?  Senador Aécio?  Governador Campos?  Sra. Marina Silva?
 
A hora é agora.  Ou, mais uma vez, o Brasil vai chegar atrasado. 

(*) Fonte: portal.inep.gov.br/estatisticas-gastoseducacao; valores reais, corrigidos pelo IPCA

domingo, 28 de abril de 2013

Educação: nossa maior prioridade

A revista Veja desta semana traz interessante entrevista com Wendy Kopp, que já havia sido mencionada pela revista em 2009.

Ao final de seu curso de graduação na Universidade de Princeton, em 1989, ela se propôs a recrutar universitários recém-formados para dar aulas nas escolas mais carentes dos Estados Unidos.  Sua meta era conseguir arregimentar 500 universitários, conseguiu cinco vezes mais.  Hoje o "Teach for America" possui 10.400 professores lecionando para 750 mil crianças norte americanas.

Em 2007, uma parceria com a organização britânica sem fins lucrativos  "Teach First" deu origem à "Teach for All", uma rede global de iniciativas para expandir as oportunidades educacionais em seus respectivos países segundo a mesma lógica da "Teach for America".  A "Teach for All" está presente em 26 países e prossegue em rápida expansão. 

Vale a pena ler a entrevista que, infelizmente, não está disponível na internet.

Reproduzo a seguir um pequeno trecho da entrevista de Wendy Kopp referente à atuação do "Ensina!"(1) no Brasil:

"P: Inclusive no Brasil?
R: Sim.  O Ensina! começou no Rio de Janeiro com a idéia de selecionar trinta jovens.  Apareceram 2.400 candidatos, número retumbante.  Conversei com os selecionados.  São jovens incríveis, bem formados e talentosos, à altura dos melhores universitários americanos que recrutamos.

P:  Por que o Ensina! foi interrompido?
R: Logo no começo do trabalho, as circunstâncias mudaram.  A prefeitura do Rio não conseguiu garantir que nossos professores dessem aula no horário regular da escola.  Então eles passaram a lecionar depois do horário normal, como se fosse um reforço escolar.  Mas esse não é o nosso modelo.  Nos Estados Unidos e nos outros 25 países onde atuamos, nossos professores estão na sala de aula regular, assumindo integral responsabilidade pelo sucesso de seus alunos.  Por isso, depois de dois anos, o trabalho foi suspenso.  Agora o Ensina! está em busca de novas parcerias com estados e prefeituras.  Tenho certeza de que o Ensina! será um sucesso no Brasil.  É só uma questão de acertar os ponteiros."

Esta é a parte triste da história: funciona no Paquistão, no Nepal, na Letônia, na Índia, no Japão, na Alemanha, nos Estados Unidos.  Mas não funciona no Brasil.    

(1) "Ensina!" é o nome do programa nos países latinoamericanos.