Circula pela internet um texto escrito pela jornalista Eliane Brum[i] intitulado "Meu filho, você não merece nada", manifestando sua opinião de que a educação que damos a nossos filhos não os prepara para a vida.
Sugiro que leiam o texto, pois as questões abordadas pela autora são pertinentes e, creio, afligem à totalidade das mães e pais pensantes, conscientes e preocupados com o futuro de seus filhos.
Em resumo, ela argumenta que os jovens que se tornaram adultos há pouco tempo ou estão em vias de cruzar essa fronteira não foram educados para lutar pela vida. Nós, pais de classe média ou acima, demos a eles a oportunidade de estudar em boas escolas, aprender outros idiomas, conhecer o mundo, demos a eles cultura e bens materiais, mas não os ensinamos a lutar para obter essas coisas.
Pior ainda, continua a autora, nós transmitimos a eles o conceito de que vitórias obtidas pelo esforço são menos meritórias e de que é possível viver sem sofrer, como se eles tivessem o direito de ser felizes simplesmente por existirem.
Em decorrência, ao se tornarem adultos esses jovens têm dificuldade para aceitar a vida como ela é: muito suor, necessidade de persistência, vitórias e derrotas, alegrias e sofrimentos. Por vezes mais sofrimentos e derrotas do que vitórias e alegrias.
Pai que sou, constantemente me perguntei se estava educando meus filhos de forma adequada. Ainda me pergunto, embora eles sejam adultos jovens.
A resposta? Fico com a de Oscar Wilde: "As crianças começam amando seus pais; quando crescem, julgam-nos; às vezes perdoam-nos."[ii]
Concordo com a necessidade de transmitirmos a nossos filhos que o esforço é condição necessária para o sucesso; que a vida é feita de bons e maus momentos; que ao longo do caminho eles vão encontrar todos os tipos de pessoas e situações; que perseverar é preciso e precioso; que só eles podem lutar suas próprias lutas, construir suas próprias vidas.
Mas também acho que devemos ensinar-lhes que o objetivo maior da vida é ser feliz, observados os princípios éticos e o respeito ao outro. E não vejo sentido em negar-lhes conforto e bens materiais, desde que deixemos claro que ao se tornarem adultos eles terão que lutar para obtê-los.
Educar filhos, como viver, é andar no fio da navalha. Escreveu minha amiga Juliana comentando o texto: "...como medir o ponto certo entre a proteção necessária e a danosa? Erros e acertos que só conseguiremos mensurar no futuro..."
O texto de Eliane Brum é um alerta importante e merece reflexão. Mas, em minha opinião, a questão é mais ampla: no Brasil de hoje impera a cultura do direito assegurado, herdado, sem necessidade de esforço, diariamente reforçada pelos (maus) exemplos da classe dominante.
Recentemente, vale lembrar, tivemos um presidente que se vangloriava de ter chegado ao posto sem estudar.
Se quisermos construir uma nação melhor e mais justa, temos que lutar para mudar esse conceito, para restabelecer os princípios e valores éticos lamentavelmente tão achincalhados nos últimos tempos. E isso começa pelas nossas atitudes e pela educação de nossos filhos. [ii] Em O Retrato de Dorian Grey, publicado em 1890. No original: "Children begin by loving their parents; as they grow older they judge them; sometimes they forgive them"