domingo, 14 de abril de 2013

Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição

Ao ler hoje em O Globo duas matérias (links aqui: 1 e 2), lembrei-me de artigo publicado em 18/3 por Ricardo Noblat com comentários sobre a Presidente Dilma.

Em atributos pessoais ela é quase a antítese do ex-presidente Lula.  Ele tem indiscutíveis carisma e habilidade política.  Ela assumiu a presidência com fama de boa gestora, embora carecendo dos principais atributos de seu antecessor.

Decorridos pouco mais de dois anos no cargo, a impressão é de que ela é uma gestora à moda antiga: excessivamente centralizadora, autoritária, pouco disposta a ouvir, com dificuldade para silenciar nos momentos adequados e deixar que as decisões sejam anunciadas pelos níveis hierárquicos competentes.

A figura do(a) Presidente da República carrega um simbolismo que precisa ser compreendido pelo ocupante do cargo e deve utilizado com sabedoria.  Cabe-lhe estabelecer políticas, rumos para a nação e deixar que sua equipe desdobre e operacionalize as ações necessárias.  Assim também o(a) Presidente é preservado de desgaste desnecessário.

A Presidente Dilma, ao contrário, parece querer decidir até mesmo que pista o avião presidencial usará.  Nem nos controladores de vôo ela confia.

Quando o(a) Presidente da República expressa opiniões sobre assuntos que deveriam ser competência de escalões inferiores o resultado é desconforto e confusão generalizados.  Seus assessores nos diversos níveis sentem-se esvaziados e tornam-se receosos de tomar qualquer decisão.  Isso tem ocorrido na economia, onde a Presidente assume publicamente atribuições que caberiam ao Ministro e ao presidente do Banco Central.  Além disso, ao ocupar-se do operacional a Presidente deixa de exercer seu papel maior.  Na falta de uma política econômica clara, o que temos visto são ações pontuais que, até o momento, não apresentam os resultados esperados.  Em vez de crescimento do país, o que tem crescido é a inflação.  Apesar disso, a Presidente goza de popularidade elevada, especialmente junto à classe média emergente, e era favorita indiscutível à eleição presidencial do próximo ano.

Era, porque cometeu um erro que pode lhe custar caro.

Considerando que a maior ameaça à sua reeleição seria um possível retorno de Lula, a Presidente Dilma buscou neutralizá-lo.  Em uma conversa tête-à-tête, ofereceu-lhe a candidatura à presidência em 2014.  Após sucessivas negativas, ela então pediu a Lula que lançasse seu nome à reeleição na festa de aniversário do PT - o que foi feito.

Ao antecipar a campanha presidencial e ser proclamada candidata do PT, ela desenhou um alvo em suas próprias costas e convidou a oposição à batalha.  Mais ainda, desviou o foco de Lula e abriu um espaço para dissidência de atuais aliados, que Eduardo Campos vem aproveitando com competência.

Naquele momento, em que gozava de grande popularidade, a Presidente Dilma deveria postergar tanto quanto possível o início da campanha, continuar exercendo o "poder da caneta" e torcer para outubro de 2014 chegar logo.  Enquanto isso, as alas paulista e mineira do PSDB continuariam a guerrear em benefício do PT e dela própria.

Agora a Presidente governa para a reeleição, queimando seus próprios navios para manter acesa a chama de seu projeto, como muito bem ilustra artigo publicado pelo economista e professor Rogério Furquim Werneck. [3]

Não se deve descartar a hipótese de que a Presidente Dilma venha a sofrer enorme desgaste nos próximos meses, vítima de seu estilo gerencial, dos ataques oposicionistas e do fogo amigo, acabando por abrir espaço para uma candidatura de Lula como única alternativa para manter o PT no poder.

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