sábado, 20 de abril de 2013

Palavras


Tenho fetiche por palavras, confesso. 
Que fique claro: fetiche em sentido figurado, não com conotação sexual.  A propósito, lembrei-me agora da comédia "Um peixe chamado Wanda", em que a personagem interpretada por Jamie Lee Curtis tem fetiche (agora sexual) pelo idioma italiano e atinge o climax sucessivas vezes enquanto seu amante (interpretado por Kevin Kline) pronuncia palavras desconexas em um macarrônico italiano. 
Mas, voltando ao tema, há muito sou um admirador incondicional das letras de Chico Buarque, que brinca com as palavras com tanta facilidade que muitas vezes passa despercebido o uso de termos não muito frequentes na linguagem coloquial, tanto mais por intercalados com expressões do dia-a-dia, quase gírias. 
Que outro autor seria capaz de compor Choro Bandido, Eu te amo, Vai passar, Pedaço de mim, Olhos nos olhos, Trocando em miúdos, Atrás da porta (aqui em interpretação visceral da inesquecível Elis Regina) e tantas outras, culminando com a que muitos consideram sua obra prima: O que será, em suas duas versões: À flor da pele (O que será que me dá / Que me bole por dentro, será que me dá...) e À flor da terra (O que será que será / Que andam suspirando pelas alcovas...). 
Em tempo de "junk funk", de hits descartáveis, da cultura da superficialidade e da celebridade instantânea profetizada por Andy Warhol em 1968 ("In the future, everyone will be world-famous for 15 minutes" - "No futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos"), revisitar os grandes compositores e intérpretes da MPB é um bálsamo.  Há muitos bons, alguns verdadeiramente grandes, mas, em minha opinião, nenhum como Chico Buarque.

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