Tenho fetiche por palavras, confesso.
Que fique claro: fetiche em sentido figurado, não com
conotação sexual. A propósito,
lembrei-me agora da comédia "Um peixe chamado Wanda", em que a
personagem interpretada por Jamie Lee Curtis tem fetiche (agora sexual) pelo idioma
italiano e atinge o climax sucessivas vezes enquanto seu amante (interpretado
por Kevin Kline) pronuncia palavras desconexas em um macarrônico italiano.
Mas,
voltando ao tema, há muito sou um admirador incondicional das letras de Chico
Buarque, que brinca com as palavras com tanta facilidade que muitas vezes passa
despercebido o uso de termos não muito frequentes na linguagem coloquial, tanto
mais por intercalados com expressões do dia-a-dia, quase gírias.
Que outro autor seria capaz de compor Choro Bandido, Eu te amo, Vai passar, Pedaço de mim, Olhos nos olhos, Trocando em miúdos,
Atrás da porta (aqui em
interpretação visceral da inesquecível Elis Regina) e tantas outras, culminando
com a que muitos consideram sua obra prima: O que será, em suas duas versões: À flor da
pele (O que será que me dá / Que me bole por dentro, será que me
dá...) e À flor da terra (O que
será que será / Que andam suspirando pelas alcovas...).
Em tempo de "junk funk", de hits descartáveis,
da cultura da superficialidade e da celebridade instantânea profetizada por Andy Warhol em 1968 ("In the
future, everyone will be world-famous for 15 minutes" - "No
futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos"), revisitar os
grandes compositores e intérpretes da MPB é um bálsamo. Há muitos bons, alguns verdadeiramente grandes, mas, em minha opinião, nenhum como Chico Buarque.
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