domingo, 26 de junho de 2011

DE VOLTA, APÓS LONGA AUSÊNCIA


Outro dia recebi tweet de uma amiga comentando que meu blog estava abandonado e perguntando se eu havia desistido dele.  O abandono era verdade, a desistência não.  Meu filho avisou, quando criei o blog, da dificuldade de postar com regularidade.  Caí na armadilha, priorizando outras coisas e abandonando o blog, como bem observou Carolina.
O blog não foi a única vítima deste período: a fotografia esteve igualmente abandonada e algumas outras atividades prazerosas, em boa medida, também.  Não sei quando postei pela última vez (estou onde o wireless não alcança), possivelmente a época indicará os motivos para tanto.
Como abandonado não é morto, o blog permanece na nuvem e os equipamentos de fotografia no armário, prontos para serem reativados.
Quase meio-dia de um domingo ensolarado de inverno, aproveito a paz para refletir sobre o futuro, embalado pela boa MPB que o iPig rosa kitsch toca sem parar.
Há poucos dias terminei a leitura um livro, infelizmente não publicado em português, cujo título seria "Transições - entendendo as mudanças da vida"[i].  Escrito há 25 anos permanece atual, pois aborda assunto visceralmente ligado à condição humana.
Há dois pontos colocados pelo autor que não podem deixar de ser mencionados: a distinção entre mudança e transição e as fases de qualquer processo de transição.
Mudança é um evento (externo) que de alguma forma interfere em nossa vida.  Transição é o processo psicológico (interno) pelo qual passamos para nos adaptar à nova condição.  Creio que o exemplo mais claro é o falecimento do cônjuge (mudança) e o processo de luto e adaptação à nova vida (transição).
Todo processo de transição é composto por três fases: o término da condição anterior, o início da nova condição e, entre os dois, um período marcado por confusão mental, perda de identidade e de sentido, durante o qual ficamos sem rumo e sem prumo, que eu chamo de "período de crise"[ii].
Cabe observar que transições não ocorrem somente em mudanças "para pior"; o nascimento de um filho, uma promoção no trabalho, ganhar uma bolada na loteria também exigem que passemos pelo processo.
Muitas das questões colocadas por Bridges são semelhantes a aspectos abordados por Hermínia Ibarra no livro "Identidade de Carreira", felizmente disponível em português.
Estou em pleno processo de transição, preparando-me para o que os jovens da geração Z talvez chamem "passar de fase no game Real Life".  Traduzindo para a linguagem boomer, aposentar-me e dedicar-me a outras atividades.
Vários companheiros (por favor, sem qualquer conotação ParTidária) têm tomado suas decisões, impelidos por diferentes motivações.  Esta diversidade de escolhas é um dos aspectos mais fascinantes da humanidade.
Dentre os que optam pela aposentadoria há desde os que querem usufruir da liberdade de fazer nada, dedicar-se a um hobby, viajar, curtir os netos, até outros que continuam trabalhando com a obrigação de ir ao escritório de segunda a sexta em horário determinado.
Há outros que decidem não se aposentar, seja porque têm ambição de galgar postos mais elevados na carreira ou porque não querem abrir mão de parte de seus rendimentos - consequência usual da aposentadoria, mesmo para quem dispõe de plano de previdência privada.  Esses estão, de fato, postergando a decisão enquanto lhes for conveniente.
Não cabe formar juízo a respeito de decisões tão pessoais como essas, cujas motivações por vezes não estão perfeitamente claras mesmo para o protagonista. 
No meu caso as questões envolvidas vão desde a perda salarial até por quanto tempo terei condições de aproveitar a vida, passando por o que quero realmente fazer agora?  Essas questões levam a reflexões que podem não ter fim, como os espelhos das antigas barbearias, um em frente ao outro, refletindo-se ao infinito em verdadeiro labirinto.
Quando criança divertia-me com os inúmeros reflexos na barbearia.  Agora tenho que encontrar meu caminho distinguindo imagens reais de reflexos.
Por fim, respondendo à Carolina, não desisti do blog.  Dependendo da escolha que faça, talvez possa dedicar a ele tempo suficiente para postar imagens e opiniões com frequência.



[i] Transitions - making sense of life's changes, William Bridges
[ii] Bridges chama este período de "zona neutra"; acho que "período de crise" descreve melhor esta fase.