sábado, 29 de junho de 2013

Sanatório Geral


Acordei cedo e logo fui pegar o jornal que me aguardava do lado de fora da porta.  Ao ler a manchete ("Donadon se entrega e  Brasil tem 1o. deputado presidiário"), lembrei-me da velha máxima do jornalismo: "cachorro mordeu o homem não é notícia; homem mordeu o cachorro, é".  Está na hora de voltar a blogar, pensei.

O inusitado não deveria ser a prisão de um deputado condenado por formação de quadrilha e peculato.  Fosse o Brasil menos surrealista, nossa perplexidade seria por uma pessoa condenada em 2010 a treze anos de prisão ainda estar solta e, mais ainda, deter um mandato de parlamentar e só anteontem ter sido expulso de seu partido.  O jornal informa ainda que "a Câmara promete acelerar o processo contra ele por quebra de decoro".

Ou seja, ele deverá perder o mandato não pelos crimes que cometeu e pelos quais foi condenado, mas por ter quebrado o decoro parlamentar.  Em vista de tudo que acontece no Brasil, indago-me que decoro será esse.  Não é quebra de decoro (para mencionar apenas um caso) o atual presidente do Senado ter renunciado para evitar sua cassação?

Depois não entendem por que, nas manifestações que inundaram o país, a tônica é a rejeição aos partidos políticos e a "tudo isso que está aí".

Embora a voz das ruas seja um tanto confusa, já que cada manifestante tem sua própria agenda, é perfeitamente clara a demanda por um mínimo de decência, gritada em uníssono pelos manifestantes.

Como lembrou Elio Gaspari há três dias em O Globo, "há um século o historiador Capistrano de Abreu propôs a mais sucinta Constituição para Pindorama:
'Artigo 1º. Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
Artigo 2º. Revogam-se as disposições em contrário'.”