domingo, 17 de julho de 2011

MEUS FILHOS, VOCÊS TÊM TUDO PARA FAZER POR MERECER


Circula pela internet um texto escrito pela jornalista Eliane Brum[i] intitulado "Meu filho, você não merece nada", manifestando sua opinião de que a educação que damos a nossos filhos não os prepara para a vida.
Sugiro que leiam o texto, pois as questões abordadas pela autora são pertinentes e, creio, afligem à totalidade das mães e pais pensantes, conscientes e preocupados com o futuro de seus filhos.
Em resumo, ela argumenta que os jovens que se tornaram adultos há pouco tempo ou estão em vias de cruzar essa fronteira não foram educados para lutar pela vida.  Nós, pais de classe média ou acima, demos a eles a oportunidade de estudar em boas escolas, aprender outros idiomas, conhecer o mundo, demos a eles cultura e bens materiais, mas não os ensinamos a lutar para obter essas coisas.
Pior ainda, continua a autora, nós transmitimos a eles o conceito de que vitórias obtidas pelo esforço são menos meritórias e de que é possível viver sem sofrer, como se eles tivessem o direito de ser felizes simplesmente por existirem.
Em decorrência, ao se tornarem adultos esses jovens têm dificuldade para aceitar a vida como ela é: muito suor, necessidade de persistência, vitórias e derrotas, alegrias e sofrimentos.  Por vezes mais sofrimentos e derrotas do que vitórias e alegrias.
Pai que sou, constantemente me perguntei se estava educando meus filhos de forma adequada.  Ainda me pergunto, embora eles sejam adultos jovens.
A resposta?  Fico com a de Oscar Wilde: "As crianças começam amando seus pais; quando crescem, julgam-nos; às vezes perdoam-nos."[ii]
Concordo com a necessidade de transmitirmos a nossos filhos que o esforço é condição necessária para o sucesso; que a vida é feita de bons e maus momentos; que ao longo do caminho eles vão encontrar todos os tipos de pessoas e situações; que perseverar é preciso e precioso; que só eles podem lutar suas próprias lutas, construir suas próprias vidas.
Mas também acho que devemos ensinar-lhes que o objetivo maior da vida é ser feliz, observados os princípios éticos e o respeito ao outro.  E não vejo sentido em negar-lhes conforto e bens materiais, desde que deixemos claro que ao se tornarem adultos eles terão que lutar para obtê-los.
Educar filhos, como viver, é andar no fio da navalha.  Escreveu minha amiga Juliana comentando o texto: "...como medir o ponto certo entre a proteção necessária e a danosa? Erros e acertos que só conseguiremos mensurar no futuro..."
O texto de Eliane Brum é um alerta importante e merece reflexão.  Mas, em minha opinião, a questão é mais ampla: no Brasil de hoje impera a cultura do direito assegurado, herdado, sem necessidade de esforço, diariamente reforçada pelos (maus) exemplos da classe dominante.
Recentemente, vale lembrar, tivemos um presidente que se vangloriava de ter chegado ao posto sem estudar.
Se quisermos construir uma nação melhor e mais justa, temos que lutar para mudar esse conceito, para restabelecer os princípios e valores éticos lamentavelmente tão achincalhados nos últimos tempos.  E isso começa pelas nossas atitudes e pela educação de nossos filhos.


[ii] Em O Retrato de Dorian Grey, publicado em 1890. No original: "Children begin by loving their parents; as they grow older they judge them; sometimes they forgive them"

Um comentário:

  1. Gostei da abordagem sob o aspecto de que não devemos negar, mas também cabe "ensinar a construir".Isto, sem dúvida, é o correto. Porém o que está acontecendo é que, desde as camadas + ricas até as camadas mais pobres,se ouve dizer: "Quero dar a eles tudo o que eu não tive." Chego a me perguntar: O que que os ricaços pode "querer" dar a mais do que já dão?
    Quanto ao desejo, NADA DE ERRADO,mas aí cabe perguntar "como" esta gente humilde pode dar t-u-d-o o que os filhos q-u-e-r-e-m? Por meios "transversos" ou com empréstimos que serão pagos com juros escorchantes aos banqueiros financiadores de campanhas políticas?
    Quando vivíamos em um país que, apesar de não ser lá muito decente, ainda não era TÃO DESAVERGOHADO, ainda era normal e podíamos nos esforçar para, no aniversário ou Natal dar um tênis de marca, ou uma roupinha de grife, até uma viagem etc.... Ocorre que o que se vê hoje é que cada vez eles querem + e +! E, nem todas as vezes, eles usam "o amor" como motivo para a atitude. Usam o medo, a ameaça de que "se você não me der,consigo de outra maneira", etc...
    O Ney tem razão.
    O problema é de exemplo. Os pais teriam que dar o exemplo mas, alguns estão ausentes de casa trabalhando para poder oferecer o razoável. Outros, mesmo em casa não dão exemplo e, se derem, podem não ser acolhidos...O problema começou há muito tempo, quando a política social destes des-governos levaram à necessidade de mulheres trabalharem para ajudar nos gastos familiares. Começaram com meio expediente e foram "sugadas" para o expediente integral.Sem esquecer que, ao chegarem em casa, ainda tinha o "TERCEIRO" expediente... Sabe, cada vez mais me sinto propensa a um sistema tribal, comandado por um "Conselho de Anciãos", e a tribo funciona com todos sendo responsáveis por tudo,desde a alimentação até a criação das crianças, sua orientação e educação.
    Depois que aprendí que até a própria Democracia pode ser manipulada, para "PARECER QUE É SEM SER", como dizem hoje os estudantes que ocupam a Plaza del Sol em Madri e os estudos desenvolvidos pela Universidade de Harvard, confesso que C-A-N-S-E-I!
    Como se dizia por aí, sem muitas esperanças de mudanças vou ficar "ESPERANDO O CARNAVAL CHEGAR"...

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