quarta-feira, 9 de julho de 2014

Copa do mundo e eleições


Hoje, em uma semifinal da Copa do Mundo, a seleção brasileira foi derrotada de forma acachapante por 7 a 1 pela seleção alemã em Belo Horizonte.  Diante de tamanha humilhação sofrida pelo que Nelson Rodrigues definiu como "a Pátria de chuteiras", o país está enlutado.  Na TV, na internet, e certamente também nos jornais impressos de amanhã, o tema dominante é e será a identificação das causas de tamanha humilhação, maior até que a sempre lembrada derrota para a seleção uruguaia na copa de 1950, em pleno Maracanã.

Embora não se possa ainda saber ao certo se há relação com a derrota da seleção brasileira, em pelo menos duas capitais ônibus foram incendiados logo após o jogo.

No jogo anterior Neymar, o craque do time brasileiro, sofreu uma contusão que o afastará do futebol por cerca de três meses, embora felizmente não apresente gravidade ou ameace a continuidade de sua carreira.  A ausência de Neymar nos dois jogos restantes da copa tornou-se assunto diário na midia e nas conversas, verdadeira tragédia nacional.

Na véspera da contusão de Neymar, trecho de um viaduto em final de construção desabou sobre uma movimentada via de Belo Horizonte matando duas pessoas e ferindo vinte e três.  A repercussão nem de longe se compara à da contusão de Neymar.

A reação das pessoas à derrota da seleção brasileira torna evidente que o futebol tem um significado relevante no imaginário da população.  Quando se trata de copa do mundo, a definição de Nelson Rodrigues parece encaixar perfeitamente: as vitórias da seleção brasileira nos redimem de nossa inferioridade real ou imaginária em outros campos - que motivou a criação de outra inspirada expressão rodrigueana: o "complexo de vira-latas".
 
Em minha opinião a principal causa da retumbante derrota sofrida pela seleção brasileira é a mesma de boa parte dos males que afligem o país, seja na economia, na saúde, na educação ou na segurança pública: gestão deficiente.
 
Os responsáveis pela seleção apostaram em um grupo com pouca experiência e, já de início, colocaram a conquista do torneio como provável, quase uma obrigação.  O ritmo de treinos era frouxo comparado ao das outras equipes e, apesar do desempenho insatisfatório, os críticos eram desqualificados, acusados de estarem torcendo contra.  Em suma, arrogância e autoritarismo.  Deu no que deu.

Tudo muito parecido com o que ocorre no país, onde não há planejamento e os evidentes problemas são sistematicamente negados.  Quando necessário, nação e governo são deliberadamente misturados e confundidos como se a mesma coisa fossem.

Embora nossa história indique não haver correlação entre resultado na copa do mundo e nas eleições, a presidente Dilma, em vista do resultado positivo da organização da copa (no qual ela mesma parecia não acreditar) e da progressão da seleção brasileira rumo ao que parecia ser mais uma conquista, aproximou-se do evento, provavelmente na expectativa de ganho de popularidade para a candidata Dilma.
 
Ela sabia do risco de uma derrota da seleção brasileira, mas certamente não considerava a possibilidade de um resultado humilhante como o que ocorreu, para o qual não há histórico.
 
Quais serão agora as consequências para a candidata?  Durante o jogo, mesmo não estando presente, ela foi objeto de manifestação da torcida, a exemplo do que ocorreu na abertura da copa, em São Paulo.  Sem entrar no mérito dos termos em que os torcedores se manifestaram, com os quais não concordo, parece que o tiro saiu pela culatra.